Notícias para o Professor ler

domingo, maio 22, 2005

PT de Chico tá de mal com os professores!

Veja nessa coluna de Vittorio Medioli como o PT vem agindo... você vai deixar barato?

Parar para pensar 22/05/2005

José Genoino, ocupou o programa do PT em rede nacional, na quinta-feira 12 de maio, para definir quem é contra a transposição do rio São Francisco de “mal informado ou mal-intencionado”, ou seja, 99 em cada 100 professores universitários do país.
Nem uma nem a outra das conclusões do dono da verdade, Genoino, entretanto, pode ser aceita por parte de quem é bem informado. A obra é inviável sob o aspecto técnico e financeiro. Prevê a transposição de uma quantidade irrisória de águas, ainda expostas à evaporação de um longo e tórrido percurso que, para levar um metro cúbico de águas ao destino, necessitará tirar 4 metros cúbicos do São Francisco. Maluquice!
Entretanto, a questão, como é mostrada e maquiada, mexe com o imaginário dos ingênuos e com a esperança de doze milhões de pessoas que sofrem os efeitos da seca no Nordeste. Provoca, por tabela, reações positivas na enorme parcela de população desatenta que não tem acesso a fontes confiáveis de informação.
Considere-se também que em volta desse megaprojeto, subdividido inicialmente em 14 lotes de R$ 300 milhões, já se desencadeou a cobiça de dezenas de grandes empreiteiras. A transposição, segundo Manoel Bonfim Ribeiro, ex-presidente da Codevasf, tem dia certo para acabar: o dia das eleições presidenciais de 2006, dando partida a uma indústria de indenizações e contestações de valores. Mais um esqueleto no armário da União onde se acumulam 23 grandes obras inconclusas e abandonadas, inclusive algumas de irrigação no Vale do São Francisco como o projeto Salitre em Irecê (BA).
Mas vamos a mais números (que José Genoino e Ciro Gomes desconhecem ou informam distorcidamente), lembrando que o rio que nasce na serra da Canastra é de baixa vazão hídrica – relativamente pobre de águas, com vazão média medida em metros cúbicos, 2.030 por segundo, e mínima de metros cúbicos, 3 1.660. Em ordem de grandeza, o Tocantins possui uma vazão de 11.500 metros cúbicos com potencial aproveitável infinitamente superior.
Pode-se, assim, tirar do São Francisco (segundo a Codevasf) não mais que 360 metros cúbicos, porém 335 metros cúbicos já se encontram outorgados com autorização legal de bombeamento para uso agrícola, industrial e humano. Desse total 91 metros cúbicos já são aproveitados e os demais 244 metros cúbicos serão bombeados em curtíssimo prazo (projetos em curso). Sobram, portanto, apenas 25 metros cúbicos por segundo à disposição da transposição que Ciro Gomes vende como de 26 metros cúbicos.
Na realidade um nada, uma gota no oceano, quando reportada a necessidade de 1 metro cúbico para irrigação de apenas 1.000 hectares. Só o projeto Jaíba dispõe de uma outorga de 80 metros cúbicos, três vezes superior à de toda a transposição, vendida por Lula e companheiros como panacéia do semi-árido nordestino. Ridículo.
Mas o desperdício de recursos públicos que promete a transposição faz tremer os alicerces do bom senso e da moralidade quando se avalia o custo de manutenção ou apenas de bombeamento. A transposição obrigará a levantar até 300 metros de altura as águas do São Francisco com um custo energético igual a R$ 0,11 para cada mil litros, enquanto o bombeamento no Jaíba não passa de R$ 0,02 para a mesma quantidade.
Na prática, a transposição não serve para atender mais que uma ínfima parcela de nordestinos, não atinge – sequer arranha – seus objetivos mirabolantes e desvairados.
Enquanto isso ocorre o programa de “Implúvios” (ou cisternas) recomendado pela ASA e pela Cáritas Internacional (com financiamentos e verbas garantidos por organismos internacionais) se encontra praticamente paralisado pelo desinteresse do ministério ocupado por Patrus Ananias.
Para impressionar os incautos, o ministro Ciro Gomes dispara uma asneira monumental, “Não aceito financiamentos do BID para transposição”. Quem é ele? O imperador do Ceará, o Nero do terceiro milênio, com direito de fazer o que quer? Ou um “genoinamente” mal-intencionado?
O BID já comunicou que não financia um crime nem um assalto à coisa pública, destinados por A mais B a um grande fiasco.
Não bastassem os pareceres de entidades, insuspeitas e apartidárias, existem, bem aqui no Brasil, estudos que indicam alternativas mais confiáveis como a perfuração de poços artesianos profundos, que jorram, sem necessidade de bombeamento, águas abundantes, praticamente inesgotáveis e da melhor qualidade, com a vantagem de evitar a evaporação por estarem próximas ao local de consumo.
Segundo estudo divulgado pela a Agência Nacional das Águas (ANA) apenas a quantidade de águas subterrâneas do Vale de Gurguéia (58 mil quilômetros quadrados) é suficiente para abastecer, pelo consumo humano, o Nordeste inteiro. Só o poço de Violeta, no Piauí, o maior do continente americano com vazão constante de 950 metros cúbicos por hora e capacidade de abastecer uma cidade de 400 mil habitantes, foi tamponado pela própria ANA por absoluta falta de programa. Coisa do Brasil de Charles De Gaulle.
Para abastecer o Nordeste inteiro com um programa de poços profundos (inspirado no que deu certo no deserto de Neguev, em Israel), seriam gastos apenas 10% de quanto previsto na primeira etapa das obras da transposição do SF, ainda economizando-se 15% de toda a energia produzida pela Chesf.
A escassez hídrica do rio da “integração nacional” é tão evidente que o mar já engoliu os últimos 50 km próximos da foz provocando um desastre ecológico e ameaçando de extinção o pequeno Estado de Sergipe. E mesmo assim Lula e Ciro pretendem (para se eleger) tirar as poucas águas que restam ao Velho Chico para abastecer Minas, Bahia, Alagoas e Sergipe – regiões com o mais baixo índice de Desenvolvimento Humano do Brasil. Essa insana decisão agride o espírito redistributivo de Robin Hood, pois tira águas preciosas dos mais pobres de Minas e da Bahia, que sequer resolveram o problema da sede, para jogá-las literalmente fora.
A escolha político-eleitoral-predatória fica mais evidente a cada instante e exige que o governo de Minas (Estado mais prejudicado e o único calado entre os atingidos) use a voz firme que prometeu gastar nesses momentos dramáticos.
E não basta dizer “primeiro a revitalização”, pois esse sofisma já autoriza a transposição que nem agora nem nunca será viável ou justificado.
Para resolver o problema hídrico do Nordeste já existem projetos absolutamente viáveis, eficientes e baratos, apoiados por organismos internacionais e, ainda, infinitamente mais econômicos.
Chegou a hora de parar para pensar. Ainda dá tempo.

Vittorio Medioli
Belo Horizonte, 22 de maio de 2005. Fale Conosco: faleconosco@otempo.com.br • Fone: 31 3369 3900 (de 9 às 20hs) http://www.otempo.com.br/vittorio.html Site temporário do jornal O TEMPO